quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Felicidade e trabalho



Hoje vou postar algo sobre um autor contemporâneo que eu gosto bastante. Alain de Botton, autor de "Arquitetura da felicidade", "Consolações da filosofia" entre outros. Todos destinados a amplo público e com uma linguagem acessível.

Em seu mais novo trabalho, "Os prazeres e desprazeres do trabalho", Alain afirma que desprazeres e desilusões são inevitáveis no trabalho e que a busca incessante por realização plena aumenta a sensação de infelicidade constante. Faz muito sentido em um mundo em que realização passou a ser "ter" algo, produzir algo. E a busca incessante pela imortalidade, por deixar uma marca neste mundo que seja inesquecível por gerações, continua. Esse medo do vazio assombra...

Reproduzo aqui uma entrevista com Alain publicada na Folha de hoje.

FOLHA - Que importância tem o dinheiro na felicidade no trabalho?
ALAIN DE BOTTON
- Dinheiro é uma forma de amor. Não adianta alguém dizer "gosto muito de você". Apenas quando você ouve "ok, vou lhe pagar 1 milhão de libras" você sente que é necessário. É difícil compreender que você é importante quando é mal pago, mesmo se disserem que você é ótimo.
FOLHA - Felicidade e trabalho podem conviver?
DE BOTTON
- A pergunta é se amor e trabalho podem estar juntos. Minha resposta é: sim, na teoria. Existem pessoas que são felizes no emprego, mas são uma minoria. Não há razão, em tese, para que você seja infeliz no trabalho, mas há várias, na prática, para que a vida no escritório seja difícil. Se o cara que senta ao seu lado é um idiota, você vai odiar o trabalho, por melhor que ele seja. É impossível passar pela vida profissional sem pelo menos uma série de insatisfações, questionamentos e crises.
FOLHA - Desde o começo de 2008, 23 funcionários da France Telecon (empresa de telefonia francesa) se suicidaram. O que pensa disso?
DE BOTTON
- O capitalismo moderno sugere que os seres humanos são apenas commodities, mercadorias que se pega e pelas quais se paga um preço. Mas há uma grande diferença entre pessoas e algodão ou petróleo. As pessoas podem cometer suicídio. Você contrata uma pessoa inteira, não apenas um cérebro ou um braço. Isso precisa ser reconhecido pelos capitalistas.


Ao som de: It Could be Sweet - Portishead

3 comentários:

  1. Dentro de minhas limitações acredito ser óbvia a necessidade de que um profissional tenha como reconhecimento final o pagamento, afinal de contas é essa a base de toda a relação do trabalho.
    Quando se presta serviços, na verdade ao indivíduo está vendendo o seu tempo tendo como fator ponderador principal, suas habilidades.
    Muito raramente (apenas para não generalizar) um individuo esta todo o tempo feliz quando esta trabalhando, por isso é pago por estar lá.
    Reconhecimento profissional é fundamental, mas quando passa a ser apenas "falado" é tão útil para o profissional quanto as mais caras obras de arte são para um artista póstumo.

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  2. Reconhecimento profissional é fundamental [2], além de incentivo, um ambiente bacana com pessoas bacanas. Mas todo mundo sabe que não funciona bem assim e por isso a infelicidade.

    Ah.. meio controverso tbm a questão do dinheiro. Já que há um tanto de pessoas gostando do que faz apesar da remuneração não ser tãao digna hahah

    Infelizmente a grande maioria só tende a afirmar: "trabalho porque preciso dessa grana"

    Mas convenhamos outra.. suicidar-se? Existem tantas outras empresas e opções porquê? eu hein.

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  3. Ééé barbie, mundo cão. Mas fica a dica: quem fica desesperado correndo atrás da felicidade não a encontra. E me lembro de uma frase clichê: "o sucesso, geralmente atinge aqueles que estão ocupados demais para procurá-lo".
    Ética muito protestante, mas interessante.

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