sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O Erro de Descartes

Ooolá, vamos a mais um livro, desta vez indico "O erro de Descartes" de Antônio Damásio, neurologista português, atualmente professor em Harvard. Aos meus alunos que já estudaram Descartes, fica a questão: qual foi o erro de Descartes?







Penso, logo existo. Esta afirmação, talvez a mais famosa da história da filosofia, ilustra exatamente o oposto do que o autor deste livro propõe e desenvolve em suas páginas. A frase de Descartes sugere que pensar e ter consciência de pensar definem o ser humano. E como sabemos que o filósofo francês concebia o ato de pensar como uma atividade separada do corpo, sua definição estabelece um abismo entre mente e corpo. Para contestar Descartes - e todas as consequências dualistas de sua afirmação - Antônio Damásio não recorre a filigranas escolásticas ou sutilezas metafísicas, mas ao seu conhecimento de pacientes neurológicos afetados por danos cerebrais.

Tais estudos abrem as portas para a investigação de um campo quase inexplorado pela ciência: as relações entre razão e sentimento, emoções e comportamento social. Na visão de Damásio, sentimentos e emoções são uma percepção direta de nossos estados corporais e constituem um elo essencial entre o corpo e a consciência. Em suma, uma pessoa incapaz de sentir pode até ter o conhecimento racional de alguma coisa, mas será incapaz de tomar decisões com base nessa racionalidade.

Ao tirar o espírito de seu pedestal e colocá-lo dentro de um organismo que possui cérebro e corpo totalmente integrados, o autor sublinha a complexidade, a finitude e a singularidade que caracterizam o ser humano. Reconhecer a origem humilde e a vulnerabilidade do espírito e, ao mesmo tempo, continuar a recorrer à sua orientação é tarefa difícil, mas indispensável. o ponto de partida da ciência e da filosofia deve ser anticartesiano: existo (e sinto), logo penso.

Texto retirado da orelha do livro.

E então, curiosos leitores, encontraram o erro de Descartes? Onde fica o racionalismo, a independência do funcionamento racional, de nossa res cogitans, sem nosso corpo, a res extensa (como dizia o professor de física baiano) como regulador e nosso cérebro funcionando em todas as suas estruturas?

Indico enfaticamente a leitura deste livro para que se possa compreender um campo de trabalho recente na filosofia e na neurologia, que acabam refletindo na psicologia: a distinção corpo/mente, uma possível estrutura cerebral fixa que nos leva aos sentimentos, o sentimento como ferramenta evolutiva. Nesse caso é curioso tratar como ferramenta para a sobrevivência aquilo que sempre tratamos como o de mais sublime que existe no humano: os sentimentos.

Ao som de: Unnatural Selection - Muse

7 comentários:

  1. Não é neste livro que citam o caso de Phineas Gage? :)

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  2. Este mesmo!!
    Um acidente que causou uma alteração cerebral resultou na mudança de comportamento do Phineas, aí que o Damásio levantou a hipótese de que há alguma área do nosso cérebro mais responsável por nossas valorações morais.

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  3. RESISTENNNCIA *-* viva bahia (Y) hahaha

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  4. O epifenomenalismo e a douta sapiência de António Damásio. \o/ Irei procurar este livro. Isso sim.

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  5. Adorei, vou lêr kkkk

    preciso manter a vontade de Lêr ecleticamente

    Quando me tornar escritora e filosofica eu vou me lembrar deste blog!! sempre entro aqui!

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  6. Fui obrigado a ler por meu professor de neurologia hoje agradeço imensamente por me apresentar obra tão valiosa

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