Olá a todos!
Neste post farei uma breve explanação sobre a noção de filosofia e uma mais breve ainda sobre os diversos tipos de conhecimento.
A pergunta que não quer calar, enfrentada por não filósofos, filósofos, professores universitários, todos: "O que é filosofia?".
Complicadíssimo responder, mas pode-se dizer que o filosofar é uma atividade reflexiva que visa o sentido que o ser humano dá a seu existir, ao mundo em que vive e às diversas dimensões do conhecimento (científico, senso comum, mítico, por exemplo) e da ação (interações sociais e ação política).
A própria palavra "filosofar" adquire diversos significados que, por diversas vezes, se entremeiam.
Então podemos, em primeiro lugar - por ser mais comum - falar da Filosofia como sinônimo do simples pensar: é o pensamento cotidiano, aquele amigo que, numa situação qualquer da uma "viajada" e alguém fala: "pô, esse cara ta filosofando", mesmo que ele não fale absolutamente nada de filosofia ou só fale bobagens. Todos conhecemos, todos temos um. E é tal tipo de coisa que contribui para uma visão errônea do filósofo, em que ele está sempre "viajando", alheio ao mundo, como nesse vídeo do grupo de comédia inglês, Monthy Python:
O Futebol dos Filósofos
O segundo é o filosofar como sinônimo de saber viver. É a filosofia que deriva de Sócrates e da temática centrada no homem e no bem viver, é ligada à ética e à busca pelo modo virtuoso de viver (até certo momento da filosofia), em que o modo de vida deve manifestar as melhores características do homem. "Conhece-te a ti mesmo".
O terceiro é como Filosofia, como profissão propriamente dita: o trabalho do filósofo, de pesquisa, leitura, muita leitura. Nesse sentido o filósofo conhece a história da filosofia e trabalha em cima dela esclarecendo conceitos, realizando pesquisas, desenvolvendo teses e escrevendo - muito. É a filosofia como vista depois de Kant, que, investigando os limites da razão pura, acabou por compartimentar a filosofia, definir até onde se estende os campos de tal disciplina guiada pela simples razão. Portanto, até a época moderna, a filosofia e as outras disciplinas não se distinguiam, e foram se desligando parcialmente, até se formar como a entendemos hoje.
O mérito da filosofia está em esta ser racional, crítica e investigativa, diferente dos mitos, do senso comum e das religiões.
O conhecimento humano se distingue em diversos tipos de acordo com o interesse, objeto, método e características próprias. O conhecimento filosófico, como ja dito, visa dar sentido às coisas e é estritamente racional (por definição, pois acredito cada vez mais que o conhecimento filosófico está ligado, junto com a razão, à boas doses de sensações e sentimentos). O conhecimento mítico é anterior ao filosófico e seu ponto de contato com a filosofia é o objetivo: explicar o mundo, dar sentido às coisas, atender ao chamado básico e necessário da admiração. Porém, os mitos não se pautam na razão mas sim em crenças, na imaginação e na cultura. Não é tão simples assim falar sobre os mitos, muito já foi e ainda é escrito sobre estes: seu papel nas sociedades, seus significados e sua importância para a humanidade - inclusive para os dias de hoje. É importante ressaltar que ambos são subjetivos, ou seja, variam de pessoa para pessoa, de cultura para cultura, crença a crença, de modo que uma corrente filosófica não é universal. Um dos papéis do filósofo é denunciar os mitos que impedem a visão da verdade racional. "Filosofar é ver o relâmpago como fenômeno natural e não como vingança ou ameaça divina" é dito frequentemente.
O conhecimento científico, ao contrário, tem como mérito principal ser objetivo: a água ferve a 100°c a um atm, seja aqui ou na Polinésia Francesa. Um mesmo experimento científico há de resultar numa mesma cena em qualquer lugar do mundo, desde que o método exato seja seguido. Aqui outra característica crucial do conhecimento científico: este segue um método, que pode ser resumido em problematização, hipótese, investigação, tese e sua aplicação resultante. O maior mérito do conhecimento científico contemporâneo é o fato de ele ser falseável: cada teoria deve estar aberta a, um dia, ser falseada, de modo que nenhuma teoria científica é definitiva - seria, pois, um dogma - nem explica a totalidade do real, sendo sempre transitório o conhecimento científico. É possível, realmente, que se entre em crise e desespero ao pensar num primeiro momento que todo nosso conhecimento científico - tido sempre como infalível e seguro - não passa de um modo adequado às nossas necessidades e capacidades de explicar o mundo, portanto frágil, delicado e mutável. Mas é exatamente isso, basta fazer uma retrospectiva histórica da cosmologia, de Aristóteles à Einstein. Mesmo com toda essa aparente fraqueza, vejam tudo o que construímos e alcançamos ("a troco de quê?" Fica lançada a questão).
Há, por último, o senso comum. Conhecimento comum. Aquele mais imediato que tende a resolver nossos problemas mais urgentes e deriva da aurora da civilização humana, sendo portanto, a forma mais antiga e primária de conhecer o mundo. O senso comum, nem sempre é racional, se baseia em crenças, em valores, em costumes. Não é criticamente refletido, sendo, ao longo do tempo, incorporado à cultura e ao costume, se incrustando, de geração à geração, na mente e sendo entendido como normal e padrão. Pode parecer um conhecimento pejorativo, mas basta lembrar que é no seio do senso comum que se desenvolveram as sociedades: toda cultura reside no senso comum e no bom senso, não fosse ela, possivelmente nada haveria.
Fico por aqui, com uma frase atribuída a Aristóteles que diz que "se se deve filosofar, deve-se filosofar e, se não se deve filosofar, deve-se filosofar; de todos os modos, portanto, se deve filosofar".
Abraços, até mais.
Ao som de: Dream Theater - Beyond this life.
Complicadíssimo responder, mas pode-se dizer que o filosofar é uma atividade reflexiva que visa o sentido que o ser humano dá a seu existir, ao mundo em que vive e às diversas dimensões do conhecimento (científico, senso comum, mítico, por exemplo) e da ação (interações sociais e ação política).
A própria palavra "filosofar" adquire diversos significados que, por diversas vezes, se entremeiam.
Então podemos, em primeiro lugar - por ser mais comum - falar da Filosofia como sinônimo do simples pensar: é o pensamento cotidiano, aquele amigo que, numa situação qualquer da uma "viajada" e alguém fala: "pô, esse cara ta filosofando", mesmo que ele não fale absolutamente nada de filosofia ou só fale bobagens. Todos conhecemos, todos temos um. E é tal tipo de coisa que contribui para uma visão errônea do filósofo, em que ele está sempre "viajando", alheio ao mundo, como nesse vídeo do grupo de comédia inglês, Monthy Python:
O Futebol dos Filósofos
O segundo é o filosofar como sinônimo de saber viver. É a filosofia que deriva de Sócrates e da temática centrada no homem e no bem viver, é ligada à ética e à busca pelo modo virtuoso de viver (até certo momento da filosofia), em que o modo de vida deve manifestar as melhores características do homem. "Conhece-te a ti mesmo".
O terceiro é como Filosofia, como profissão propriamente dita: o trabalho do filósofo, de pesquisa, leitura, muita leitura. Nesse sentido o filósofo conhece a história da filosofia e trabalha em cima dela esclarecendo conceitos, realizando pesquisas, desenvolvendo teses e escrevendo - muito. É a filosofia como vista depois de Kant, que, investigando os limites da razão pura, acabou por compartimentar a filosofia, definir até onde se estende os campos de tal disciplina guiada pela simples razão. Portanto, até a época moderna, a filosofia e as outras disciplinas não se distinguiam, e foram se desligando parcialmente, até se formar como a entendemos hoje.
O mérito da filosofia está em esta ser racional, crítica e investigativa, diferente dos mitos, do senso comum e das religiões.
O conhecimento humano se distingue em diversos tipos de acordo com o interesse, objeto, método e características próprias. O conhecimento filosófico, como ja dito, visa dar sentido às coisas e é estritamente racional (por definição, pois acredito cada vez mais que o conhecimento filosófico está ligado, junto com a razão, à boas doses de sensações e sentimentos). O conhecimento mítico é anterior ao filosófico e seu ponto de contato com a filosofia é o objetivo: explicar o mundo, dar sentido às coisas, atender ao chamado básico e necessário da admiração. Porém, os mitos não se pautam na razão mas sim em crenças, na imaginação e na cultura. Não é tão simples assim falar sobre os mitos, muito já foi e ainda é escrito sobre estes: seu papel nas sociedades, seus significados e sua importância para a humanidade - inclusive para os dias de hoje. É importante ressaltar que ambos são subjetivos, ou seja, variam de pessoa para pessoa, de cultura para cultura, crença a crença, de modo que uma corrente filosófica não é universal. Um dos papéis do filósofo é denunciar os mitos que impedem a visão da verdade racional. "Filosofar é ver o relâmpago como fenômeno natural e não como vingança ou ameaça divina" é dito frequentemente.
O conhecimento científico, ao contrário, tem como mérito principal ser objetivo: a água ferve a 100°c a um atm, seja aqui ou na Polinésia Francesa. Um mesmo experimento científico há de resultar numa mesma cena em qualquer lugar do mundo, desde que o método exato seja seguido. Aqui outra característica crucial do conhecimento científico: este segue um método, que pode ser resumido em problematização, hipótese, investigação, tese e sua aplicação resultante. O maior mérito do conhecimento científico contemporâneo é o fato de ele ser falseável: cada teoria deve estar aberta a, um dia, ser falseada, de modo que nenhuma teoria científica é definitiva - seria, pois, um dogma - nem explica a totalidade do real, sendo sempre transitório o conhecimento científico. É possível, realmente, que se entre em crise e desespero ao pensar num primeiro momento que todo nosso conhecimento científico - tido sempre como infalível e seguro - não passa de um modo adequado às nossas necessidades e capacidades de explicar o mundo, portanto frágil, delicado e mutável. Mas é exatamente isso, basta fazer uma retrospectiva histórica da cosmologia, de Aristóteles à Einstein. Mesmo com toda essa aparente fraqueza, vejam tudo o que construímos e alcançamos ("a troco de quê?" Fica lançada a questão).
Há, por último, o senso comum. Conhecimento comum. Aquele mais imediato que tende a resolver nossos problemas mais urgentes e deriva da aurora da civilização humana, sendo portanto, a forma mais antiga e primária de conhecer o mundo. O senso comum, nem sempre é racional, se baseia em crenças, em valores, em costumes. Não é criticamente refletido, sendo, ao longo do tempo, incorporado à cultura e ao costume, se incrustando, de geração à geração, na mente e sendo entendido como normal e padrão. Pode parecer um conhecimento pejorativo, mas basta lembrar que é no seio do senso comum que se desenvolveram as sociedades: toda cultura reside no senso comum e no bom senso, não fosse ela, possivelmente nada haveria.
Fico por aqui, com uma frase atribuída a Aristóteles que diz que "se se deve filosofar, deve-se filosofar e, se não se deve filosofar, deve-se filosofar; de todos os modos, portanto, se deve filosofar".
Abraços, até mais.
Ao som de: Dream Theater - Beyond this life.
explique a frase ´... filosofar é ver o relâmpago como fenômeno natural e nao como vingança divina.
ResponderExcluirOlá,
ResponderExcluira frase está relacionada à capacidade da filosofia de desmistificar os mitos, de explicar racionalmente fenômenos antes explicados por mitos e fantasias. É claro que o aspecto que a frase trata hoje faz parte de outros campos do conhecimento como a física, mas em sua origem a frase é totalmente pertinente e, ainda hoje, diz respeito à principal ferramenta da filosofia: a razão.
Abraços.