segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Reparação

Olá a todos! Quanto tempo!


Começo o ano mostrando uma promessa de documentário para o ano que chega agora. Não, não é Lula, o filho do Brasil, não é cinema eleitoral. É um documentário. Mesmo. Fuçando por aí achei o vídeo no Youtube, a descrição do vídeo é a que segue.
"Documentário conta história de vítima da violência da guerrilha durante o regime militar.
Pela primeira vez no Cinema Brasileiro, longa-metragem mostra histórias de violência dos 2 lados: da repressão militar e do terrorismo de extrema esquerda."


"Reparação é o título do documentário de longa-metragem em High Definition que conta a história de Orlando Lovecchio, vítima de um atentado a bomba praticado pela guerrilha que lutava contra o regime militar no Brasil, em 1968. Orlando perdeu a perna no célebre atentado ao Consulado dos EUA em São Paulo e, ainda hoje, em 2009, luta por justiça: como não é considerado uma vítima da ditadura militar, a aposentadoria que recebe é menor que a do autor do atentado que o vitimou e enterrou para sempre seu sonho de ser piloto de avião. O episódio envolvendo Orlando e seus desdobramentos tem merecido amplo e constante destaque na imprensa.
A partir deste caso, o filme provoca uma reflexão a respeito do período militar, da violência de grupos extremistas ontem e hoje na América Latina, da ditadura cubana que persiste até hoje com o apoio de democratas em todo o continente, além da relação ainda conflituosa existente entre o aparelho repressivo do Estado e os cidadãos comuns.
Com depoimentos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do historiador Marco Antonio Villa, do jornalista Demétrio Magnolli, entre outros, Reparação pretende iniciar uma nova discussão sobre o período militar dentro do contexto do Cinema Brasileiro, que até hoje tem falhado por mostrar apenas um lado dos que viveram a época, de uma forma muitas vezes maniqueísta (como se a História pudesse ser resumida a um eterno embate do bem contra o mal)
Em uma abordagem franca e sem amarras partidárias ou ideológicas, Reparação comprova sua total independência ao não ter recorrido às verbas públicas para sua realização.
Uma prova de que o Cinema Brasileiro pode suscitar o debate com qualidade técnica e total independência estética e de pensamento."

Este é o texto de apresentação do vídeo no youtube. No lançamento do filme veremos a independência de pensamento. Cabe também investigar as origens do orçamento do filme que, se não auxiliado por verbas públicas, certamente incentivado por empresas que esperam que algo seja mostrado no filme. De todo modo parece ser  muito interessante e a discussão é bem pertinente em época do Programa Nacional dos Direitos Humanos, com suas intenções ainda obscuras para mim.
Por último, um bom ano a todos. Que vocês possam ter a coragem de ser e a força de buscarem o mito próprio de cada um de vocês.


Ao som de: Chico Buarque - Cálice


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

"Caim" - novo livro de José Saramago




O caderno Prosa & Verso, do jornal O Globo, deste sábado trazia os comentários sobre o novo livro de Saramago, “Caim”- aquele do mais famoso fratricídio da humanidade. Juan Arias escreve o artigo. Ele que é, inclusive, autor de um livro sobre o Nobel português – “José Saramago – o amor possível” -, além de “A Bíblia e seus segredos” e “Jesus, esse grande desconhecido”.

Comenta Arias que “mais do que a história romanceada de Caim, o escritor aborda em seu livro o absurdo de um deus – sempre registrado com minúscula, por Saramago – que na Bíblia aparece mais cruel e caprichoso que o pior dos homens.”
Ainda segundo Arias, “em todo o texto, no qual Caim é protagonista e narrador das atrocidades do deus bíblico, o irmão de Abel não nega seu crime e aceita sua vida errante como uma espécie de castigo. Não aceita, contudo, ser mais criminoso e cruel que deus. Se ele matou seu irmão – segundo Saramago, na realidade, ele queria matar deus – esse deus cometeu muito mais crimes que ele... A dialética de Caim com deus é impecável: se eu pequei, tu pecaste mais. Se eu matei meu irmão, tu mataste, ou mandaste matar a muitos mais”.
O último parágrafo da análise de Arias é bastante interessante. Escreve ele: “Para Saramago, deus não é mais que um pretexto para que as religiões possam melhor escravizar a consciência humana. Com ‘Caim’, ele trata de deitar, literariamente, sobre o tapete do mundo, esta crua realidade. Ao mesmo tempo, e apesar do seu ateísmo, devemos a ele uma das definições mais poéticas da divindade: ‘Deus é o silêncio do universo, e o homem o grito que dá sentido a esse silêncio’, afirmou ele em certa ocasião. Afinal, deus não é para ele tão indiferente como possa parecer. ‘Caim’, definitivamente, é também um grito contra todos os deuses falsos e ditadores criados para amordaçar o homem, impedindo-o de viver, em total liberdade, sua vida e seu destino”.
Ao lado do artigo sobre o livro, há uma pequena entrevista com o próprio Saramago. Gostaria de citar três das questões feitas, bem como as fortes respostas.
JORNAL: “O Caim que o senhor constrói é a voz da razão, da clareza de raciocínio, mostrando um Deus tão tirano e incompreensível que torna qualquer crença patética. Qual sua intenção ao escrever o livro?”
SARAMAGO: “No fundo, o problema não é um Deus que não existe, mas a religião que o proclama. Denuncio as religiões, todas as religiões, por nocivas à Humanidade. São palavras duras, mas tenho que dizê-las”
JORNAL: “Outros ateus convictos, como Richard Dawkins e Christopher Hitchens vêm dedicando seu tempo a uma cruzada antirreligiosa. Como vê esse movimento?”
SARAMAGO: “Por mim, não o faria. É praticamente impossível convencer alguém a virar as costas às suas crenças. Limito-me a escrever o que penso do assunto e deixo aos leitores a inteira liberdade de fazer o que entendam. O único que peço para mim é respeito”
JORNAL: “O senhor acredita que ainda é possível a existência de um mundo sem religião? O pessimismo de Caim em relação à Humanidade é também o seu?”
SARAMAGO: “Penso que não merecemos a vida, penso que as religiões foram e continuam a ser instrumentos de domínio e morte. Em suma, Caim teve razão para tentar impedir que outra humanidade substituísse a que teria morrido no dilúvio. Afinal, se a primeira era má, esta é péssima...”

 Entrevista retirada do blog do Ricardo - Spinoza e amigos.




Agora algumas considerações sobre as perguntas. Enquanto Saramago, como bom membro do Partido Comunista, diz que todas as religiões são nocivas à humanidade, eu partilho o ponto de vista de Michel Onfray e restrinjo o caráter nocivo apenas às religiões do eixo judaico-cristão por todos os motivos que vocês, caros leitores, ja devem estar carecas de saber: poder, manipulação, ilusão,distorção, oportunismo de inocências etc. Em relação à última resposta de Saramago, a de que não merecemos a vida, tenho duas objeções. A primeira é sobre a relevância da afirmação, penso ser irrelevante se merecemos ou não a vida, o fato é que a temos e, uma vez nesta condição, temos que fazer o melhor possível dela, com o que temos em mãos. A segunda é em relação às implicações: a afirmação de que não merecemos a vida me soa um tanto quanto metafísica. Falar em merecimento da vida automaticamente me traz a noção de alguma coisa que nos foi dada, neste caso, a vida só pode ter sido dada se admitirmos a existência de um ser superior, responsável pela vida, que nos deu algo que não merecemos. Caso não exista deus algum, a vida que temos não pode ser medida em termos de merecimento. Não sei se me fiz claro.

De qualquer modo, coloco o livro na minha lista de "a serem lidos" e prometo colocar minhas impressões aqui.


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Comentários sobre o filme "V de Vingança"



“V de Vingança” (V for Vendetta) foi lançado em 2005 nos Estados Unidos e possui como roteiristas Andy Wachowski e Larry Wachowski, os mesmos de Matrix. O roteiro é inspirado na série em quadrinhos homônima de Alan Moore. A direção é de James McTeigue que já trabalhou como assistente de direção ou segundo diretor em vários projetos como na própria trilogia Matrix e também em Guerra nas Estrelas (Ataque dos Clones).

O tema gira em torno de vingança e medo. O primeiro constitui o corpo da obra e o segundo, a alma. E é por ter alma que este filme possui qualidade. Alguns podem não gostar dele mas classificá-lo como ruim é atestar a falta de qualquer conhecimento sobre cinema e artes em geral.

O que faz pinturas de Da Vinci, Michelangelo, Salvador Dalí e outros serem diferentes é justamente por terem alma. Ao criá-las esses artistas colocavam nas telas amor, paixão, ódio, imprimiam seus sentimentos e visões de mundo carregados de significados. Além disso, cada obra era única. Só existe uma única “Mona Lisa”, uma única Capela Sistina, um único “Dom Quixote”.

Nos dias atuais, este conceito de arte ainda persiste mas não é mais a corrente dominante. A lei mandatária da nossa era é a “linha de montagem”, a institucionalização, os padrões, as fórmulas e equações que garantem o retorno necessário para o pagamento das contas e que sustentam os lucros.

É muito comum nos shopping centers a presença de pequenas galerias para venda de quadros. Até parece ser mais um milagre dos tempos modernos - o acesso das massas a arte. Uma grande contribuição do nosso tempo a humanidade? Conversa fiada! Se analisarmos com mais cuidado podemos constatar que se trata de uma imagem chapada, impressa em papel sintético, por uma máquina e através de uma matriz. Como máquinas não possuem sentimentos, eu encaro esse objeto como uma farsa, uma obra sem alma.

Algo parecido acontece também no cinema. Hollywood é o mais claro exemplo de institucionalização da arte. O objetivo dos produtores incluem as contas pagas e o lucro garantido. Pra isso existem os clichês e os chavões hollydianos tais como Mel Gibson e Julia Roberts que garantem a bilheteria. Além disso, a tecnologia também dá uma mãozinha. Há inúmero programas de computadores que até mesmo criam os personagens, permitem cruzar perfis, situações, etc. Trata-se mesmo de algo tal como um linha de montagem que no fim tem-se um produto que será consumido por milhões de pessoas pelo mundo todo. Um produto que muitas vezes não tem alma, ou seja, é simplesmente o resultado de uma fórmula de gerar lucros.

Não é esse o caso de “V de Vingança”. Ele não é simplesmente um produto sem vida, sem significados. Sua história até possui clichês que poderiam levá-lo ao desastre, poderia torná-lo um blefe. Seria fácil escorregar para uma critica ou para uma denúncia como simples artifício para atrair o público. Isso seria muito hipócrita por condenar uma certa situação ao mesmo tempo que se aproveita dela.

A história se ambienta em um momento futuro em que a Inglaterra passa por um regime extremamente autoritário. Um político jovem, promissor e extremamente religioso é membro do partido Conservador, é decidido e não tem consideração nenhuma pelo processo político. Seu partido lança um projeto em nome da segurança nacional para a busca de armas biológicas. No entanto este objetivo é apenas fachada pois com isso não seriam questionados sobre os custos. O verdadeiro sentido do projeto é o poder. Dominação completa e total.

Foi criado então o Centro de Detenção Larkhill (Larkhill Detention Center) onde pessoas eram aprisionadas e submetidas a inúmeras violências e até mesmo serviam como cobaias para a criação de um vírus letal ao mesmo tempo que providenciavam também o medicamento para a cura que ele causaria.

Incentivado pela mídia, o medo de uma gerra biológica se espalha rápido e o partido Conservador é visto como a única saída para detê-la. Ele é então eleito e alcança o poder que tanto almejava.

Já com o vírus em mãos, era o momento de o partido mostrar serviço. Ele foi usado em uma escola, no metrô e numa estação de tratamento de água. Centenas de pessoas morreram nas primeiras semanas. Após a contaminação, uma fábrica de remédios controlada por membros do partido lança no mercado o Viadoxic, um medicamento que neutralizava o vírus. A empresa passou a bater recordes nas bolsas de valores e o povo acreditava ser um milagre de Deus que a teria escolhido para salvar o país.

Alguns extremista oposicionistas, usados como bodes expiatórios, foram julgados e condenados, e um memorial é erguido para canonizar as vítimas.

No entanto, os patifes do governo não contavam que um homem que estava preso em Larkhill tinha sobrevivido. Este assume o codinome “V” e dá início a um trama cuja base é a vingança. Ele “visa varrer esses vermes venais e virulentos da vanguarda do vício que permitem a viciosa e voraz violação da vontade”.

Se o filme tivesse ficado nisso eu mesmo teria-o condenado ao inferno para que queimasse ali junto com Rambo e outros do gênero. Mas Alan Moore deu alma a história e os irmãos Wachowski souberam bem traduzi-la para o telão.

Reflexões sobre o medo

O medo tornou-se a ferramenta fundamental do governo para instaurar um sistema de crueldade, injustiça, intolerância e opressão. As redes de televisão BTN (British Television Network) e Interlink contribuem muito divulgando notícias maquiadas.

As pessoas são fracas, não levam em conta que podem ajudar seu país se agissem de um modo diferente. Mas esta consciência é muito difícil de ser adquirida pois o medo é uma emoção, uma condição natural que provoca em nós a percepção do valor negativo que uma determinada situação tem para as nossas necessidades e interesses. Trata-se de um índice que indica o valor não desejável que uma situação tem para a nossa existência, ou seja, para a nossa vida.

Aristóteles afirma que “o medo é uma dor ou uma agitação produzida pela perspectiva de um mal futuro, que seja capaz de produzir morte ou dor”. Isso implica que nem todos os males são temidos mas apenas aqueles que provocam dor e destruição e também que sejam iminentes. Todos sabemos que vamos morrer um dia mas apenas somos tomados pelo medo quando encaramos a morte frente a frente.

Em “V de Vingança”, mesmo o governo usando da violência em vez do diálogo, eliminando a liberdade de se opor, pensar e falar, a população se via obrigada a se submeter. O chanceler criou uma determinada ordem de coisas que mostrava que a segurança da nação somente seria possível através da total submissão das pessoas as suas determinações. Ele tornou a possibilidade de um ataque com armas biológicas algo iminente e muito próxima da realidade das pessoas.

Hobbes afirma que emoções, como o medo, controlam toda a conduta do homem e, neste mesmo sentido, Descartes afirma que a função natural das emoções é nos incitar a executar ações que servem para conservar o corpo ou para torná-lo mais perfeito. Descartes ainda considera que as emoções não provém da diferença entre os objetos, mas dos diferentes modos pelos quais os objetos nos prejudicam, nos ajudam ou, em geral, têm importância para nós. Kant complementa que as emoções ajudam e sustentam a existência implicando que a utilidade das emoções decorre da função exercida em face da vida.

Heidegger é quem aproxima o tema da angústia a grande discussão sobre o medo. Para este pensador, diferentemente do medo, que sempre existe em relação a algo que está dentro do mundo, que se aproxima ameaçadoramente e que pode ser removido, a angústia só pode ser sentida diante do mundo como tal. Ela não é provocada como ocorre com o medo, por um fato particular, mas apenas é contingente da nossa existência.

Com base nesta premissa, o médico e fisiológico Kurt Goldstein demonstrou que a adaptação de qualquer organismo a um ambiente acontece através do que ele chamou de “reações de catástrofe”. Após vários choques, os eventos catastróficos passam ter um significado de comportamento ao organismo, ou seja, ganham forma emotiva de angústia, que o dará capacidade de agir para conservar sua existência. O que produz o medo é o sentimento de possibilidade de surgimento da angústia.

E é justamente essa fraqueza natural que todos temos que é usada pelo governo inglês criando uma série de problemas para que juntos tenham a função de corromper a razão e afetar o bom senso das pessoas, tornando-as angustiadas por uma ameaça sempre presente, sempre muito próxima, pronta a se concretizar a qualquer momento. O medo então as dominam e as fazem recorrer ao novo alto chanceler Adam Sutler que promete paz e ordem pedindo em troca um consentimento silencioso.

Mas o filme não pára por aí em suas indagações sobre a natureza humana. V inspirou-se em um personagem histórico, um soldado chamado Guy Fawkes. Este fazia parte de um grupo que articulou um plano, chamado de “Conspiração da Pólvora”. Ele fora pego no dia 5 de novembro de 1605 acertando a posição de 36 barris de pólvora no porão do prédio do parlamento inglês. Seu objetivo era fazer voar pelos ares o prédio do Parlamento com praticamente todo o governo britânico de então: o rei, a nobreza e os parlamentares. Até hoje, todos os anos no dia 5 de novembro, pessoas no Reino Unido, Nova Zelândia, África do Sul, Terra Nova e Labrador e São Cristóvão celebram a falha da conspiração, na chamada Noite de Guy Fawkes.

A vingança de V então consiste em fazer o que Fawkes não conseguiu, isto é, destruir o prédio do Parlamento com Big Ben e tudo o mais que ele tem direito. Ele quer, com isso, fazer com que imparcialidade, justiça, liberdade sejam mais que palavras vazias de discurso político, mas sim perspectivas que guiam ações efetivas, palavras recheadas de substância, que oferecem um significado e, para aqueles que ouvem, a enunciação da verdade.

Para V a explosão do prédio significa o mesmo que o prédio em si, ou seja, um símbolo. Através deste ato, o povo se liberta do medo, deixando de precisar de signos, e passa a ter esperança sustentada por uma consciência mais precisa da realidade.

Este desenrolar de acontecimentos é bastante interessante. É Sheler quem aponta a relação entre objeto e medo como uma relação simbólica pois considera que os estados emotivos não têm caráter intencional por si mesmos. Não se referem imediatamente a objetos ou situações. O estado emotivo pode tornar-se um signo do objeto ou da situação. Para Sheler, o valor constitui o objeto próprio da emoção e é considerado uma realidade específica, irredutível às realidades percebidas ou conhecidas de natureza absoluta.

Portanto, como bem afirma V, a explosão de um prédio pode sim mudar o mundo embora não existam certezas de nada mas apenas oportunidades. A oportunidade para V está clara, e é com este ato que ele pretende mudar radicalmente a mente de seus concidadãos, colocando abaixo símbolos, signos, significações que tiram a atenção da população não permitindo-as pensar e agir de forma autônoma.

Max Weber também acreditava que as ações são realizadas a partir de motivações que, de certa forma, oferecem significado ou sentido próprio à conduta humana. A sociedade retratada em “V de Vingança” está presa a uma realidade forjada, a uma significação criada e imposta por um grupo que visava o poder. Essa situação somente será alterada se todas as pessoas, coletivamente, mudarem a forma como enxergam as coisas, algo que é muito, mas muito difícil. Somente um evento muito marcante, de grandes proporções, para provocar uma ruptura de paradigma de tal magnitude.

No dia 11 de setembro, os aviões foram além de atingir duas torres e matar milhares de pessoas. Os arquitetos desta ação conseguiram com isso abalar uma crença já muito enraizada. Os estadunidenses possuem fascinação por edifícios. Os prédios são símbolos de progresso e poderio econômico. Dessa forma, foi destruído também a convicção inabalável de invulnerabilidade.

Considerações finais

Eu vejo “V de Vingança” como uma caricatura da realidade. Todos nós sabemos que os caricaturistas supervalorizam aspectos singulares fazendo-os se sobressaírem exageradamente no todo.

Contudo, talvez a trama apresentada no filme seja uma representação exagerada de outras formas de dominação das quais estamos submetidos sem perceber. O filme nos chama a atenção pra isso e também que esforços, muitas vezes dolorosos, sejam necessários para se libertar de qualquer estado de opressão.

Qualquer forma de controle é uma agressão a nossa capacidade criativa e inventiva.
Retirado do blog de meu colega Cristiano de Jesus


Até a próxima!
Ao som de - Be Agressive - Faith no More

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Ateu encontra prova de inexistência de Deus

Ateus, céticos, agnósticos, pseudo-céticos, crentes. A antiga luta ateu x crente que levanta calorosos debates e risadas ainda se movimenta. A questão de acreditar ou não em algo superior é tão séria que qualquer pessoa, em alguma fase de sua vida buscará seu posicionamento e suas justificativas sobre o que e como crer (ou não).

Vou deixar de lado, neste post, os argumentos utilizados por cada lado e suas falhas a acertos. Me lembro aqui, de uma senhora insuportavelmente chata que me pegou no ônibus, querendo me converter e não acreditava que eu não acredito em nada.

Por hora, deixo alguns conceitos que podem ajudar alguém a se esclarecer

Teísta: Usado aqui como todo aquele que crê em alguma deus, seja ele qual for. Vejam bem, independente de qual religião o indivíduo segue. É um dogmático pois afirma uma verdade que não pode ser contestada. Se inserem aqui qualquer pessoa que segue alguma religião, que não segue mas acredita em deus ou em uma forma superior de inteligência.

Ateu: É quem nega que haja deus ou alguma realidade que se possa chamar de divina. Também é um dogmático pois afirma uma verdade que tende a ser definitiva. Porém, este é um dogmático "negativo": enquanto o teísta afirma que, o ateu afirma que não há. A maioria das pessoas que duvida da existência de deus se auto intitula ateu (erroneamente).

Cético: Os céticos se opõem ao conhecimento seguro. Duvidam da capacidade humana de afirmar qualquer coisa com certeza apodíctica, incluindo aí a existência de uma inteligência superior (e incluindo aí a própria certeza desta afirmação, o que geraria, para alguns, o paradoxo cético).  A palavra deriva do verbo grego sképtomai que significa algo como "olhar cuidadosamente", "vigiar", "examinar atentamente". Logo, o cético seria "aquele que olha cuidadosamente" na sua busca pela verdade, antes de pronunciar-se sobre algo, antes de tomar alguma decisão. O fundamento da atitude cética é a cautela, o cuidado e a examinação.

Agnóstico:  significa, literalmente, "aquele que não sabe". Agnosticismo é a postura daquele que "não sabe" ou "não pretende saber". O termo original foi usado para se opor àquelas doutrinas segundo a qual é possível conhecer mais coisas que a ciência permite. O agnóstico nega a possibilidade de conhecermos deus, diz que não temos métodos para conhecê-lo de modo válido.


Definidos em relação aos posicionamentos, vamos a um vídeo que achei muito interessante. O mais curioso é a ironia em perceber como os ateus, no vídeo, se apropriam de argumentos dos teístas e os teístas, para negar o absurdo, se apropriam dos argumentos ateus.





 Terminado o vídeo, alguns esclarecimentos sobre ceticismo.
 
Deve-se atentar para as peculiaridades do ceticismo teórico e prático. Do ponto de vista teórico, o ceticismo é uma doutrina do conhecimento segundo a qual não há nenhum saber firme ou opinião segura. Do ponto de vista prático, consiste em uma atitude de não aderir a qualquer opinião, na suspensão dos juízos (a chamada epoké), em busca da paz interior. Imediatamente podem estar passando pelas cabeças pensantes de vocês a problemática que o ceticismo gera no que concerne ao agir: se não posso afirmar nada com certeza e se tenho que suspender meus juízos todos, o que devo escolher, isto é, como devo agir, viver? Pois é, como? Deixo-os pensando um pouco sobre isso.
Até o próximo!!

Ao som de: Depeche Mode - Personal Jesus

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Felicidade e trabalho



Hoje vou postar algo sobre um autor contemporâneo que eu gosto bastante. Alain de Botton, autor de "Arquitetura da felicidade", "Consolações da filosofia" entre outros. Todos destinados a amplo público e com uma linguagem acessível.

Em seu mais novo trabalho, "Os prazeres e desprazeres do trabalho", Alain afirma que desprazeres e desilusões são inevitáveis no trabalho e que a busca incessante por realização plena aumenta a sensação de infelicidade constante. Faz muito sentido em um mundo em que realização passou a ser "ter" algo, produzir algo. E a busca incessante pela imortalidade, por deixar uma marca neste mundo que seja inesquecível por gerações, continua. Esse medo do vazio assombra...

Reproduzo aqui uma entrevista com Alain publicada na Folha de hoje.

FOLHA - Que importância tem o dinheiro na felicidade no trabalho?
ALAIN DE BOTTON
- Dinheiro é uma forma de amor. Não adianta alguém dizer "gosto muito de você". Apenas quando você ouve "ok, vou lhe pagar 1 milhão de libras" você sente que é necessário. É difícil compreender que você é importante quando é mal pago, mesmo se disserem que você é ótimo.
FOLHA - Felicidade e trabalho podem conviver?
DE BOTTON
- A pergunta é se amor e trabalho podem estar juntos. Minha resposta é: sim, na teoria. Existem pessoas que são felizes no emprego, mas são uma minoria. Não há razão, em tese, para que você seja infeliz no trabalho, mas há várias, na prática, para que a vida no escritório seja difícil. Se o cara que senta ao seu lado é um idiota, você vai odiar o trabalho, por melhor que ele seja. É impossível passar pela vida profissional sem pelo menos uma série de insatisfações, questionamentos e crises.
FOLHA - Desde o começo de 2008, 23 funcionários da France Telecon (empresa de telefonia francesa) se suicidaram. O que pensa disso?
DE BOTTON
- O capitalismo moderno sugere que os seres humanos são apenas commodities, mercadorias que se pega e pelas quais se paga um preço. Mas há uma grande diferença entre pessoas e algodão ou petróleo. As pessoas podem cometer suicídio. Você contrata uma pessoa inteira, não apenas um cérebro ou um braço. Isso precisa ser reconhecido pelos capitalistas.


Ao som de: It Could be Sweet - Portishead

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Salve geral

Maio de 2006, dia das mães. Uma organização criminosa arma um esquema complexo para parar São Paulo. E conseguem. 293 ataques, 41 policiais e agentes de segurança assassinados, 54 feridos, 82 ônibus queimados, entre outros. Um fato inesquecível para a cidade de São Paulo, sobretudo àqueles que têm família na Polícia Militar.

Outubro de 2009. Sérgio rezende (Zuzu Angel, 2 filhos de Francisco - roteiro), lançará um longa metragem baseado nos fatos de 2006. O filme, que pode ser o concorrente brasileiro ao Oscar por melhor produção estrangeira, conta a história de uma mãe disposta a percorrer a fina linha de seus valores éticos (ética como mãe? Ética como cidadã?) para salvar seu filho,Rafael, 18 anos, preso.

Vejam o trailer:




Me lembro que aproveitei os acontecimentos da época para questionar o alcance e efetividade do Estado. Ficou muito claro que, onde o Estado não chega, logo surgem novos poderes paralelos. É um movimento natural que advém das relações de micropoder sociais. O Estado não garantia os direitos dos presos e marginalizados, logo surgiu uma nova figura com pretensão à soberania para ocupar o vácuo criado. Ilegítimo, porém aceito socialmente.

E o filme vale para questionamentos éticos. A mãe que quer salvar seu filho está disposta a cruzar a lei para conseguir seu fim último. Aqui fica a questão: que papel esta(s) mulher(es) devem seguir - e portanto, que conduta tomar? O papel de mãe querendo proteger os seus ou o papel de uma cidadã a cumprir com seus deveres sociais e cívicos num Estado ausente? A espera pelo filme é grande.

E quem comparar com Tropa de Elite perde o dedão da mão direita. Depois do Capitão Nascimento, qualquer filme nacional com tiro é cópia da obra de José Padilha.

Abraços!

Questões morais

Baseado no texto anterior, levanto aqui algumas reflexões acerca da moral e da natureza de nosso sentido de moral:

  • Na história da evolução das espécies, qual o papel da moral e sua importância na preservação da espécie humana?
  • Há propriedades universais para nossas valorações morais, fazendo assim sentido falarmos em uma "gramática moral"? (Algo parecido com o que Noam Chomsky afirma sobre a gramática)
  • Quais são as causas de nossas variações morais culturais?
  • Até que ponto nosso senso moral depende do domínio de ponderações específicas e imediatas?
  • Que limitações ocorrem na criança ao esta adquirir a capacidade moral?
  • Os psicopatas possuem um déficit na moral ou déficit em unir conhecimento moral com os comportamentos moralmente apropriados?

Questões retiradas do site de Harvard, do departamento de Damásio.